terça-feira, 26 de agosto de 2014

A ORAÇÃO DO PÃO COMO ESPERANÇA DE UMA COMUNIDADE

A oração é algo essencial na vida dos discípulos de Jesus. Sua eficácia é poderosa, pois muda o nosso coração. Quando diante dos problemas e da angústia da vida, a oração é o oxigênio da esperança. Esperança de mudança pela intervenção divina, pela providência soberana.
Quando Mateus inclui a oração do pai nosso em seu evangelho, certamente, tinha como destinatário uma comunidade que buscava respostas para alguns questionamentos. E talvez um destes questionamentos fosse: como devemos orar? A esta pergunta já existia reposta, Jesus havia ensinado seus discípulos (Mt. 6.9).
Pode-se intuir que, por detrás de uma simples fala de Jesus, quando ensinando seus discípulos acerca da oração, há uma infinidade de possibilidades hermenêuticas. Desta forma, chamo a atenção para o pão. Jesus diz: o pão nosso de cada dia dá-nos hoje. Para mim, este pão é a esperança para uma comunidade. Entretanto, como se dá esta esperança?
Primeiro, o pão é nosso e não meu. Ao ensinar seus discípulos, Jesus não fala de um pão singular, mas de um pão coletivo. É o pão do qual toda humanidade tem por direito divino. A Bíblia diz que do Senhor é a terra, e é dela que vem à possibilidade do pão. Desta forma, Jesus está mais do que ensinando seus discípulos a pedir o pão, ele está ensinando seus discípulos a socializar e repartir o pão. O pão, assim como a terra, é providência divina para suprir a necessidade de todos, e não somente de alguns.
Segundo, o pão é o de cada dia. O pão é algo perecível, ainda hoje com a possibilidade de conserva-lo por um determinado tempo maior, ainda sim seu estado perfeito é de no mínimo um dia e no máximo dois. Sendo assim, mais do que ensinar seus discípulos a pedir a Deus que supra a necessidade diária, Jesus está ensinando que o pão não é para ser armazenado ou retido, pois o pão que é retido, perde seu estado essencial e já não tem mais utilidade.
Portanto, reter o pão, é reter a providência divina para com os necessitados. É promover a fome e a necessidade daquele que precisa.
A ideia do pão como esperança para uma comunidade é a partir de uma consciência comunitária que entende que, mais do que esperar e receber a providência divina é repartir estas mesmas providência com mundo. Certamente, nas comunidades que receberam o evangelho de Mateus, havia problemas tais como conhecemos hoje: individualismo, indiferença e egoísmo.
Assim, mais do que ensinar os discípulos a orar abstratamente (só de palavras), Jesus ensina a concretizar na existência da comunidade uma oração acompanhada pela ação, e sem dúvidas, neste caso, a ação é olhar para o outro a partir de si mesmo: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. (Lucas 10.27)

                                                                                        Seminarista Marcelo H. Romeu