sábado, 5 de julho de 2014

LIBERDADE DE ESCOLHAS- PARTE II

UMA ESCOLHA TEOLÓGICA 
Ser livre para escolher é certamente um atributo concedido pelo Deus Criador ao ser humano inteligente e racional. Exemplo disso é Adão e Eva, os pais da humanidade, que livremente puderam escolher entre conhecer o bem e o mal.  A eles, não foi imposto nada arbitrariamente, pelo contrário, foram incitados por satanás que lhes mostrou as consequências de comer do fruto proibido. Assim, come-lo foi resultado da senhora escolha; escolha de viver as consequências, no caso deles, o ideal de serem iguais a Deus, conhecedores do bem e do mal. Objetivos e ideais nada ingênuos para uma primeira escolha. Entretanto, falar da escolha, dos objetivos e dos ideais de Adão e Eva seria algo infinitamente distante da nossa realidade hoje, se por detrás de nossas escolhas também não existissem ideais e objetivos a exemplo deles.
Escolhas nunca são neutras ou ingênuas, é preciso escolher bem para desfrutar das oportunidades que elas proporcionam. Assim, a liberdade de escolha, quase sempre, é pautada em ideais e objetivos a serem alcançados e estes sempre as condicionam, nem por isso deixamos de ser livres para escolher. Os provérbios, como citado anteriormente, sintetizam muito bem esta afirmação: “Não sejas sábio aos teus próprios olhos; teme ao SENHOR e aparta-te do mal; será isto saúde para o teu corpo e refrigério, para os teus ossos” (Pro 3.7-8). Por um lado, o ideal é ter saúde, refrigério para o corpo e para os ossos. Por outro lado, para se alcançar este ideal, é necessário não ser sábio aos próprios olhos e temer ao Senhor, ou seja, escolha condicionada pelo ideal, pois já se sabe as consequências dela. Tudo isso para falar um pouco de teologia, ou melhor, teologias.
Antes de falarmos de teologia é preciso que se esclareça de antemão o que de fato é teologia. Teologia não é estudo sobre Deus, mas estudo das revelações de Deus. Desta forma, por meio da revelação, hipoteticamente se diz algo sobre Ele. Esclarecido o termo, podemos caminhar de maneira humilde e segura, pois reproduzindo Paul Tillich, tudo o que podemos atribuir a Deus não passa de símbolos, ou seja, codificamos os eventos da revelação em linguagem e assim, parcialmente e superficialmente, conhecemos um pouco do que Deus pode ser. O apóstolo Paulo, precursor da teologia cristã, também compreendia desta forma, pois diz: Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? (Rom. 11:34-35). Todavia, o que teologia tem haver com liberdade de escolha? Tudo.
A Bíblia é um livro de teologia e um livro de fé. É preciso ter fé para aceitar que, homens e mulheres, antes de nós, compreenderam e vivenciaram a revelação de Deus na história e atribuíram ao divino uma infinidade de acontecimentos. Sobretudo, é preciso ter fé num amontoado de textos que carregam em si percepções sobre o criador e salvador que, por vezes, se complementam e se contradizem no processo de compreensão finito-humano. É preciso ter fé para aceitar um Deus que se fez carne e que não existe prova sobre ele- se não a nossa própria vida que é transformada pelo invisível, e isso evidência pela fé sua existência. Viver por fé, não a aquisição dela, é uma livre escolha e muitos escolheram rejeitar e abandona-la (se é que tiveram) por suas consequências.
 Assim, voltando à teologia, penso que o ser humano precisa aceitar a falta de compreensão sobre temas que pertencem único e exclusivamente ao divino, mas que, por vezes, são tidos como algo desmistificado e plenamente revelado por alguns. Não pretendo dizer que se abandonem os estudos da revelação, pelo contrário, desejo dizer que se abandone a arrogância de achar que uma ou outra interpretação esteja correta e usa-las como meio de rejeição e exclusão dos outros. É preciso compreender que no âmbito da teologia existe a necessidade de se tomar partido sobre uma ou outra linha de pensamento, ou seja, é necessário exercer a liberdade de escolha no  pensar teológico.
O fato é que, qual cristão, por mais leigo que seja, nunca se viu interessado ou nunca ouviu dizer sobre o processo salvífico de Deus. Talvez, em se tratando deste mistério, os presbiterianos saibam afirmar categoricamente que a salvação é somente para os eleitos-predestinados. Por outro lado, há aqueles que dirão que a salvação é para todos aqueles que crerem em Jesus Cristo e não somente para os predestinados de antemão. Há àqueles que dirão que todos serão salvos.
Existe, também, a discussão sobre o processo inicial de salvação, ou seja, se é Deus quem se dirige ao ser humano para salvar ou o ser humano por si só reconhece seu pecado e dirige-se a Deus. Sem dúvida, são mistérios, mas que pela revelação pretende-se revela-los. Para mim, impossível, visto que a bíblia apoia tanto um como outro. Assim, deveríamos recorrer à escolha livre e pessoal.
Entretanto, ao se falar de teologia, o que me angustia é que, desde sempre, se tem escolhido pelo método mais coercitivo e alienante possível. Nos dias de hoje, de maneira ainda mais repugnante.
Teologia, se mal aplicada, é uma arma letal para consciência. Recorrer ao divino, sobretudo, apoiar os argumentos no sagrado foi e tem sido uma estratégia e tanto para conduzir as ovelhas ao terrorismo psicológico, às chantagens emocionais e a lavagem de consciência. Convivemos com títulos intrinsicamente ligados a relação direta com o divino, tais como: apóstolos contemporâneos de Jesus Cristo, patriarca do Senhor, ungido de Deus; o que dizer de pessoas com tamanho relacionamento com o misterioso e o sagrado. Assim, são eles os plenos detentores dos mistérios de Deus que a nós, meros mortais, ainda permanecem ocultos. São eles os aptos a interpretar a revelação e a difundir a verdadeira teologia. São pessoas tão espirituais que, por vezes, se hospedaram por alguns dias, tanto no céu, como no inferno. Quem somos nós perto destes irmãos. Estão errados teologicamente? Não. Construíram suas próprias hipóteses sobre o que pensam ser a revelação e escolheram crer desta forma, se por um ideal-objetivo, cabe a nossa interpretação.
Teologia é e sempre será uma escolha, uma escolha que lhe dê possibilidades de um melhor relacionamento com Deus, uma escolha que lhe traz paz de consciência e espírito. Não há certo ou errado. Não há quem conheça mais, ou menos do divino. Há quem interprete a revelação de Deus segundo a sua consciência e revelação divina. Desta forma, faço minha própria escolha, escolho fazer teologia a partir do Deus encarnado (Jesus), que para mim, para João e para o autor do livro de Hebreus, ele é a expressão exata do ser de Deus e quem o vê, também vê o pai (Jo.14.9-Heb. 1.3). Prefiro fazer teologia a partir do ideal de ser discípulo do Mestre, sendo constrangido dia após dia a amar, a perdoar, a respeitar, a incluir, a pregar, ou seja, ser alguém melhor, viver uma novidade de vida. Sou eu o certo? Não. Esta é minha escolha. 
Assim, para mim, não é possível aceitar radicalismos, fundamentalismo e esoterismos teológicos. Não é possível aceitar modelos prontos e muito menos verdades autoritárias. Não é possível aceitar listas do que tenho ou não que fazer, não é possível aceitar diabologia, ou seja, teologia, para minha concepção, mentirosa. Não é possível aceitar a prisão de um Deus infinito em uma consciência finita. São eles errados e eu certo? Não. Apenas faço minha escolha segundo a minha consciência.
Tenho para mim que, teologia é um meio de graça e não de desgraça. Desta forma, faço escolha sem medo de errar e sem ter a pretensão de provar ser o certo ou o errado, mas minha escolha é e sempre será para preservar minha liberdade e para servir melhor ao Senhor Jesus, mesmo que condicionado pelas consequências. Continua.......