“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo
propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de
plantar e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar e tempo de curar;
tempo de derribar e tempo de edificar; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de
prantear e tempo de saltar de alegria; tempo de espalhar pedras e tempo de
ajuntar pedras; tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar; tempo de
buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de deitar fora; tempo de
rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar; tempo de amar
e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz” (Ec. 3.1-8).
Uma
cena chamou atenção do mundo nesta semana. Uma criança de apenas 03 anos de
idade foi encontrada morte numa praia da Turquia. Segundo informações, a
família estava indo se refugiar no Canadá, mas, na travessia marítima, apenas o
pai sobreviveu. A criança de 03 anos, o irmão de 05 anos e a mãe das crianças foram
mortos após o bote naufragar em alto mar.
A
imagem daquela criança na praia reflete a busca de milhares de famílias em busca
de paz, de alegria, de justiça, de dignidade, de cuidado e de segurança.
A
sua morte, apenas reflete o que está acontecendo nessas muitas travessias, nas muitas periferias de São Paulo, nas muitas favelas do Rio de
Janeiro e nos muitos lares espalhados pelo país.
Tragédia como esta, como a morte de um morador de rua na praça da sé e como aquela
ocorrida há poucos dias atrás, onde 19 pessoas foram assassinadas, nos coloca numa posição de vítima, numa
posição de impotência, numa posição de lamento e reflexão.
Faz-nos
pensar que há mensagem sem conclusão otimista, sem frases de efeitos
que despertem a emoção, sem orientações práticas e efetivas para uma semana
melhor, sem conhecimento teológico.
Faz-nos pensar que após tragédias como estas, o
melhor mesmo era ficar em silêncio, sem nada dizer, apenas ouvir calado o que o
Espírito tem a nos dizer.
Nas
Escrituras, encontramos diversos personagens bíblicos que se calaram, que choraram
e que lamentaram frente à tragédia e a desgraça. Foram situações que fizeram
com que eles não tivessem motivos para festa, para dança, para cerimônias.
Davi
quando soube que seu filho Absalão estava morto “profundamente comovido, subiu à sala que estava por cima da porta e
chorou; e, andando, dizia: Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão!
Quem me dera que eu morrera por ti, Absalão, meu filho, meu filho!” (2Sa 18:33).
Os
camponeses que ficaram em derredor de Judá, após a deportação de Jerusalém para
a Babilônia, choravam e lamentavam por verem a cidade destruída e as pessoas
morrerem de fome, assim diz o texto:
Chora e chora de noite, e as suas lágrimas lhe
correm pelas faces; não tem quem a console entre todos os que a amavam; todos
os seus amigos procederam perfidamente contra ela, tornaram-se seus inimigos
[...] Com lágrimas se consumiram os meus olhos, turbada está a minha alma, e o
meu coração se derramou de angústia por causa da calamidade da filha do meu
povo; pois desfalecem os meninos e as crianças de peito pelas ruas da cidade
[...] Por estas coisas, choro eu; os meus olhos, os meus olhos se desfazem em
águas; porque se afastou de mim o consolador que devia restaurar as minhas forças;
os meus filhos estão desolados, porque prevaleceu o inimigo (Lm. 1.2; 2.11; 1.16).
O sábio escritor de
Eclesiastes, sabedor de que no desenrolar da vida humana há muitos momentos
diversos, disse que a tempo para tudo debaixo do céu. E certamente hoje é tempo de chorar e de refletir sobre como ter um mundo
mais justo e mais humano.
Contudo,
choraremos na certeza de que são bem aventurados aqueles que choram, pois serão
consolados.
Que o senhor em sua infinita
misericórdia tenha piedade de nós e nos dê a tão necessária paz! Amém!
Sem. Marcelo H. Romeu