sexta-feira, 5 de setembro de 2014

EXÍLIO E OS PROFETAS

Aproximamo-nos de dias decisivos para a nação e ao que tudo indica uma nova voz é ouvida. Há relatos bíblicos que fazem sentido apenas na Bíblia, não recebem o realismo que lhes é devido, mas quando ganham vida na realidade hoje, são tão reais como o foram para os nossos primeiros irmãos na fé.   
O exílio do 6º século é mais próximo da nossa realidade do que imaginamos. Ao compreender suas motivações, concluímos que também vivemos em exílio. A trajetória de fracassos de Judá e Jerusalém, que sucumbiram em relação às grandes potências da época, exemplifica como ainda hoje somos subjugados pelos ainda colonialistas e imperialistas não-existentes (existem, mas não se mostram).
Como nação, vivemos hoje as mesmas expectativas do exílio, a retomada da terra: uma terra livre, uma terra boa. Mas, infelizmente, o que vemos é o vale de ossos secos: muita fome, muita dor, muita injustiça social, muita morte e muita desesperança. Entretanto, como no vale dos ossos, a esperança se dá pelo Espírito profético, aquele que denúncia e ordena em nome de Deus.
Clama-se por um novo caráter, uma nova visão, um novo coração, uma nova terra e uma nova criatura. Nosso futuro não será uma retribalização, mas uma democratização do conhecimento, dos recursos básicos, dos meios de produções e do trabalho justo. Não podemos simplesmente transferir nossas utopias para as Escrituras e esperar, é preciso agir a partir da releitura responsável delas, a partir da fé que encoraja. Precisamos encontrar esperança nos ensinos e aplicá-los ao contexto atual. 
Precisa-se urgentemente alinhar nossa história ao movimento histórico de Deus no mundo. É preciso perceber o desabrochar dos mistérios divinos na realidade, é preciso perceber um Deus atuante e descontente com a realidade.
Houve muitas divergências entre os remanescentes com relação ao futuro, hoje também vivemos e sofremos pela falta de convergências nas utopias. Algumas são muito bem aceitas, enquanto outras são demonizadas. O pragmatismo exacerbado de nosso contexto é um dos culpado. Mas não há pragmatismo sem que por detrás dele não existam desejos e interesses pessoais. É preciso convergir às utopias, saber o que queremos, saber o que precisamos e saber o caminho a percorrer.  
Outro obstáculo está na ignorância e nas ideologias. A origem da miséria e da injustiça são acobertadas pelos meios de comunicação, escolas e universidades, o motivo: Mamon. Parafraseando Racionais: "Deus é uma nota de cem".
Exílio não é coisa da Bíblia, vivemos exilados em nossa pátria. Nossas práticas são alienadas e ideológicas, não há espaço para o que Rubem Alves chamou de humanismo político, ou seja, o ser humano constituinte do seu próprio amanhã, sem as algemas do comum, sem o olhar para o preexistente. Não somos livres, estamos aprisionados ao sistema. O universo clama por profetas!